No momento em
que o caro leitor lê este artigo, (infelizmente) o país ainda não bateu no
fundo, o desemprego ainda não atingiu o seu limite máximo, as insolvências e o
crédito mal parado não inverteram a sua tendência de subida, a recessão e o
défice vão continuar e a malfadada austeridade ainda conhecerá novos capítulos…
(Com)provado o
falhanço do actual governo, que perdeu
uma soberana oportunidade para verdadeiramente reformar o n/ insustentável Estado,
importa, mais do que nunca, reflectir sobre o nosso futuro.
Desenganem-se
porém, aqueles que pensam que o problema está exclusivamente na incompetência
dos nossos governantes, com o ministro Vitor (Prof. Karamba) Gaspar à cabeça,
que são “apaixonados pela austeridade” (Seguro dixit) e que as coisas se
resolvem com novas eleições de onde sairá vencedor, quase inevitavelmente, o secretário-geral
do Partido Socialista. Os cancros não se curam com aspirinas e o estado a que
chegámos exige mais do que a substituição de um Primeiro-ministro inexperiente
por outro (igualmente incapaz), Portugal depende muito daquilo que se decide em
Bruxelas, mas também aí faltam Estadistas capazes de encontrar uma solução para
a Europa e o governo (seja ele qual for) está agrilhoado ao Memorando da Troika.
A somar a toda
esta conjuntura negativa, paira no ar o chumbo eminente do Orçamento pelo
Tribunal Constitucional, que colocará mais um grave problema nas mãos do governo,
incapaz de cortar na despesa pública sem ir ao bolso dos funcionários públicos
e pensionistas. Assim, confirmando-se (e acredito piamente que sim) o chumbo, o
que nos espera será um novo aumento de impostos que, como é hábito, vai espoliar
ainda mais a classe média do nosso país.
Romper com a
Troika e virar costas ao Euro, como alguns defendem, só traria mais miséria ao
país. Aquilo que muitos não compreendem é que o Estado (e também as famílias e
as empresas) desde há muitos anos que gasta mais do que aquilo que tem e foi-se
endividando até ninguém nos emprestar dinheiro sem cobrar juros usurários (em
2012 o Estado gastou mais dinheiro em juros dos empréstimos contraídos do que
em Educação…), pelo que o caminho passa obrigatoriamente pela austeridade e não
por mais TGVs, aeroportos de Beja, pontes e auto-estradas.
As razões para
sermos a causa da Europa são muitas e não vêm de agora (leiam: “Causas da
Decadência dos Povos Peninsulares” da autoria de Antero de Quental), não vale
pois a pena diabolizar a classe política, a Troika ou os alemães pela miséria
em que actualmente muitos portugueses se encontram… Não podemos, como tantas
vezes oiço, querer “Sol na eira e chuva no nabal”, ou queremos um Estado
balofo, com centenas de milhares de funcionários, RTP pública a custar um
milhão de euros por dia ao erário público (viva o Preço Certo!) e investimento
público a rodos, mas quem defender este caminho tem que ser coerente e não
reclamar da carga de impostos que pagamos, ou então queremos um outro caminho,
queremos um Estado mais magro, com menos burocracia, centrado nas funções
principais do Estado, um Estado que seja um árbitro e não um jogador, um Estado
que não prometa 150.000 postos de trabalho mas que crie condições (baixando o
IVA p. ex.) para as EMPRESAS criarem 150.000 postos de trabalho…
O exemplo
deverá vir de cima, corte-se nas viaturas do Estado, no número de deputados e assessores,
nas reformas douradas e nas PPPs, pois doutra forma nenhum governante tem
legitimidade para pedir mais sacrifícios aos portugueses.
Goradas as
expectativas da Revolução dos Cravos, eu proponho para estes tempos difíceis que
se avizinham, 3 novas prioridades para darmos a volta por cima, 3 E’s ao invés
dos 3 D’s da Revolução, são eles: Educação, Ética e Envolvimento… e se
quisermos, podemos juntar ainda mais um E, de ESPERANÇA…
* Conhecidos como os 3 D’s, foram os grandes objectivos para
o país, plasmados no programa do M.F.A. (Movimento das Forças Armadas),
delineado dias depois do 25 de Abril de 1974.